Polícia Federal informou a Freire Gomes que ele seja ouvido na condição de testemunha; ou seja, é obrigado a falar a verdade. Depoimento começou no início da tarde e adentrou a noite. Trama golpista: ex-comandante do Exército depõe à Polícia Federal na condição de testemunha
O general Freire Gomes, que comandou o Exército em 2022, foi à Polícia Federal nesta sexta-feira (1º), em Brasília, para prestar depoimento sobre tentativa de golpe de Estado. A PF investiga se o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros de sua equipe e militares simpatizantes se articularam para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Freire Gomes começou a ser ouvido por volta de 15h, na sede da PF, em Brasília. Ele continuava depondo até a última atualização desta reportagem, mais de 3h depois.
O general foi informado de que seria ouvido na condição de testemunha. Nessa condição, ele sabe que é obrigado a falar a verdade.
Na avaliação dos investigadores, ele teve papel importante para evitar o uso das tropas do Exército em qualquer aventura golpistas, mas precisa explicar por que não denunciou o que estava sendo tramado dentro do governo.
O depoimento é faz parte da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF em 8 de fevereiro. Na semana passada prestaram depoimemento o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro e candidato a vice-presidente em 2022, Walter Souza Braga Netto; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
De acordo com as investigações, Bolsonaro e aliados se organizaram para tentar um golpe de Estado e mantê-lo no poder, impedindo a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Segundo a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o general Freire Gomes participou das conversas sobre a minuta do golpe com o então presidente, mas se recusou a aderir a qualquer aventura golpista, irritando os militares aliados de Bolsonaro, como o general Braga Netto.
Em mensagem a outro oficial, Braga Netto candidato a vice na chapa de Bolsonaro, xingou Freire Gomes por ele não se juntar a uma tentativa de intervenção militar segundo mensagens obtidas pela Polícia Federal.
Acampamento golpista
Freire Gomes também terá de responder sobre o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Foi ele quem deu a ordem para que o acampamento não fosse desmobilizado.
A PF quer saber se a ordem partiu dele ou se ele recebeu uma ordem superior para interromper o trabalho da PF e da Polícia Militar do DF, que estava, no final de 2022, desmontando o acampamento.
O depoimento do ex-comandante do Exército será complementar ao do general Estevam Theophilo, classificado pelos investigadores como muito produtivo.
Segundo investigadores, o general Theophilo relatou que não tinha poder para dar ordens para tropas, apenas coordenar as suas ações depois de acionadas. Segundo ele, era necessária uma ordem para que as tropas entrassem em ação. Aí, ele faria o trabalho de coordená-las.
Na avaliação dos investigadores, ele teve papel importante para evitar o uso das tropas do Exército em qualquer aventura golpistas, mas precisa explicar por que não denunciou o que estava sendo tramado dentro do governo.
Dentro do Exército, ele conta com o apoio da cúpula da instituição, que, por outro lado, avalia que o general precisa dar as explicações sobre o que aconteceu principalmente nos últimos meses do governo Bolsonaro.